21 de março de 2011

De volta ao Frey!

Se coincidências existem ou esta tudo definido em nosso destino não sei. Mas existem momentos na vida que isto é posto em cheque. Um destes casos aconteceu comigo quando sai de Arenales e fui para Mendoza. Cheguei ai sem saber com quem escalaria e a idéia era passar no Frey rapidamente e depois ir a Cochamo. 
Agulha Principal face leste, vista do acampamento do vale do Campanile.

Quando acordo no albergue em Mendoza cruzo com o Eduardo Pedro de Joinvile, que havia voltado de Cochamo e estava um pouco perdido, voltando não querendo voltar! Com tamanho esforço, uma cerveja e meia palavra pois logo ele me interrompe dizendo: -vamos! Consegui convencer o Edu a ir ao Frey escalar por alguns dias. E ficou claro que seriam somente alguns dias no Frey e principalmente para escalar a via Sinistro total e mais alguma via longa e de boas fendas.
Eduardo Pedro na quarta cordada da via Sinistro Total 6b na face oeste da agulha Principal.

Chegamos em Barriloche no final da manhã, estava super quente, a "praia" da cidade estava lotada, tinha até mulher de biquíni!!! Fomos ao mercado e organizamos nossas "tralhas" a tempo de embarcar no ultimo ônibus para o Cerro Catedral. Saímos com o mínimo de equipamentos, o mais leve possível, sem barracas, pouca roupa, uma corda, tudo "justito"! A previsão indicava mais dois dias de bom tempo e depois chuva!
Eu na quinta cordada da Sinistro, fenda larga, alucinante!

 Bivacamos no começo da trilha e no outro dia caminhamos até o vale do Campanile. O bosque estava bem florido, com muitos frutos gostosos a vida estava exuberante! Bivacamos (acampar sem barracas) no vale do Campanile.
Saímos para escalar a face oeste da Agulha principal as 6h e as 8h estávamos na base para os rapeis de acesso a face oeste. Entramos com costuras e camalots contados, sem mochila, 1L de água, deixamos os tênis antes do rapel e entramos com somente uma corda de 70m.
 Quinta cordada, boa fenda de camalots #3!

A escalada fluiu super bem, erramos a parada para o pêndulo em uns 10m mas rapidamente desescalamos e seguimos o caminho certo. A via é linda, sem sombra de duvida a melhor que escalai no Frey, todas as cordadas são de pura fenda. A via toda não tem proteções fixas, um piton ou outro.
Quando estávamos nas enfiadas para atravessar em sentido da via normal a tempestade chegou com muito granizo e raios. Cabrummm!! Edu guiou a travessia, mas na hora de recolher a corda ela travou, tive que sair escalando e recolhendo a corda até libera-la, o granizo não deu trégua! Quando cheguei na parada vimos a capa rompida, que merda! Mais uma pequena cordada na chuva e chegamos na ultima cordada da via normal, onde rapelamos protegidos do vento. 
Chegando ao acampamento encontramos o Gustavo Neto de Pelotas e o Speed de Curitiba desfrutando um bom whisky! Como escreveu Vinicios de Moraes "Whisky é o melhor amigo do homem, é o cão engarrafado", que desfrute!    
Eu na via Clemenzo - Agulha Principal. 

Depois de um dia de muita chuva e frio o tempo abriu, saímos novamente para a Aguja Principal onde escalamos a via Clemenzo.
Vista do Vale  Frey durante a escalada da via Clemenzo.

Do nosso bivac até o cume da principal foram 4h! Ficamos bem animados com nosso ritmo! Logo Edu chegou com uma idéia irresistível, ele disse:-Vamos para Chalten?
Bem e porque não!!


8 de março de 2011

Aventuras en el Cajon del Arenales

Estava familiarizado com este ambiente, já completavam quase 30 dias de muitas escaladas. Eu e o João Casol já havíamos repetido as vias mais exigentes das Agulhas Campanile e da Chales Webis. Escaladas de “pura fenda”, bom granito em sua maioria de 180 a 200m. Como rack já estava enxuto e a cabeça grande resolvemos sair para abrir algumas vias naquele mundo de pedra!
Por do sol no Cajon.
João Casol na via Acuario 6b- Aguja Chales Webis
Eu na via Ya te averigua 6b.
Eu na 2 enfiada da via Sapiencia Ficticia 6c - Aguja Campanile.
Canpanille e o diedro mais evidente é a linha da Sapiencia ficticia.

Começamos por uma grande agulha ao lado da Chales Webis chamada El Moncho, seu nome é uma homenagem a um escalador local que morreu na Patagônia, que possuía apenas uma via. João, Marcelo Duran e Mimi haviam começado a via na temporada passada e foram até quase completar a segunda cordada. Acompanhei o João na repetição da primeira um 6c em diedro delicado com a saída um pouco exposta, e da segunda que sai em uma fenda difícil de 6c e ao final tem um alucinante lance em agarras 7a+ em parede levemente negativa, super estético! Daí são mais duas cordadas pela arresta da parede toda em móvel e fáceis até o cume. “Prensa que sobe” 7a+ 180m 4 enfiadas, Aguja El Moncho parede sudoeste.
Cume da Aguja Chales Webis
Na segunda enfiada na abertura da via Variandus variantes 6b.
Chimchillon, tipo de lebre que vvi na região.
Eu na segunda cordada da via The Lords 6b+ de bons entalamentos de meio corpo!


Na manhã seguinte já estávamos na base da parede sudoeste da Chales Webis para abrir uma linda linha de fendas perfeitas que nos “chupava desde abajo”. João começou por um diedro gigante de 60m com boas passadas de 6b “sostenido”! A decepção é que este diedro já havia sido conquistado, havia uma reunião de chapas ao final. Mas esta via seguia para a direita e nos seguiríamos reto em direção a grande fissura que víamos desde o chão. Assumi a segunda que começou em agarras seguindo uma fenda fechada o que me obrigou a bater uma chapa para superar um lance de 6a+ , depois segui por fendas até o platô acima. A terceira encabeçada pelo João passa por boas fendas e ao final tem lances alucinantes de agarras protegidos em móvel. A próxima enfiada foi um “regalo”, linda fissura de dedos que começou dura e foi aliviando ao final. “ Variandus variantes” 6b 220m 5 enfiadas, Aguja Chales Webis parede sudoeste.
Aproximação da Aguja El Espejo.
Laguna , depois do primeiro Tapon.
Aguja El Espejo.
João iniciando a primera enfiada na abertura da via Espejo mio.
João no teto na primeira cordada.
Eu na segunda cordada da Espejo mio.
No cume eu, Beto e João, Aguja El Espejo.
Para nossa ultima conquista escolhemos uma agulha ainda sem ascensão, com um granito relusente como espelho. Localizada um pouco mais ao fundo do vale depois do primeiro “tapon”, passe o lago é o primeiro vale a direita, subindo mais um pouco vc chega ao granito polido da agulha que chamamos de Aguja El Espejo. Para esta empreitada juntou-se a equipe o amigo José Roberto “Beto” de São Paulo. Começamos a escalar ao meio dia e como a linha não parecia facilitar muito, imaginamos que não conseguiríamos finalizar no mesmo dia. Mas as fissuras se revelaram perfeitas e a linha escolhida super natural! Chapas somente nas paradas! Cada um encarando uma das três primeiras enfiadas da linha de granito puro sangue e sem precisar bater proteções, progredimos rápido e ao final do dia o João estava finalizando a ultima cordada e chegando ao cume. A via ficou com paradas fixas, boa para rapelar. “ Espejo, espejo mio” 6c+ 180m 4 enfiadas, Aguja El Espejo perede leste.
Eu na via Harmonica 6a,Aguja Campanile, escalada com o Edu Pedro.
Eu no diedro da Cuyonita 6a, Campanile.
Edu e eu no cume do Campanile.
Luciana Maes nas ultimas cordadas da via Mejor no hablar de ciertas cosas 6b 500m
Guanacos cruzando a morena.
De papo pro ar!!!
Seguramente foi o pico onde escalei as melhores fendas da minha vida! El mágico Cajon Del Arenales!! Ainda permaneci ai mais 10 dias para escalar mas um monton!! Agradecimentos aos amigos João Casol, Eduardo Pedro e Luciana Maes pelas parcerias e escaladas! Os Croquis das novas vias estarão disponíveis no site abaixo.